Meu poema é resto
Nunca escrevi poemas amenos
Os mais leves foram de zombaria e escárnio
Até gostei de alguns, malgrado de pouca valia
Nunca sentei numa cadeira, busquei a caneta
e registrei a palavra para falar do bom e do belo
Poesia sempre foi o que sobrava de mim
sempre foi resto
o fim da linha
Curva, emparedamento e precipício
O não lugar
Nunca cantei, por exemplo, que Jequitinhonha foi o lugar mais belo onde pisei
e o quanto amo aquele Vale e sua gente
Porque poesia para mim sempre foi lata de lixo
Onde revirava-me a mim mesmo
Aos meus amores
Ofertei meu coração
Mas não poemas
Porque poemas
são o que tenho de pior
Abaeté/MG, 13 de maio de 2020.
Allender Barreto