Eu quero é ser normal

Amor! Amor! Amor! Amor!

Foda-se o amor!

Dane-se as regras, não das mulheres,

Mas das Leis.

Que a vida morra e não haja ressurreição,

Não preciso de chão sob meus pés.

Eu quero é ser normal!

Droga de paz!

Seja errante e não encontre corações para pousar,

Afim de o dilaceramento humano se perpetuar.

Que a morte seja a única vida para os homens

E tudo que vejo agora, torne-se uma lembrança apenas.

Eu quero é ser normal!

Eu quero é ser igual ao seu José e à dona Maria,

Com a mesma tinta no sangue,

Sendo minado um pouco o dia todo

E roubado a cada hora do dia.

Eu quero é ser normal!

Eu quero é ser igual ao seu José e à dona Maria,

Envelhecendo antes dos vinte,

Morrendo da mesma morte do SUS,

Acreditando que amanhã será melhor.

Eu quero é ser normal!

Eu quero ser igual ao seu José e à dona Maria,

Com o mesmo peso apoiado nas mesmas pernas finas

E um pedaço de pão por dia.

Eu quero é ser normal.

Igualzinho ao seu José e a dona Maria,

Morando invisível num viaduto ou marquise de um prédio

Na rua de uma cidade qualquer.

Sem os mesmos direitos de muitos que não se chamam

Nem Maria e nem José.

São muitos os Josés e as Marias

Sem direito de ter direito de ser chamado gente,

De um abraço, um sonho.

Uma vida.

Charles Costa
Enviado por Charles Costa em 13/05/2020
Reeditado em 22/05/2021
Código do texto: T6946122
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