AVEZINHA EM QUARENTENA

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Inspirado no texto:
AS AVES !!! (T6929019)

Ah, que pena!
Cortaram minhas asas,
estou em quarentena.
Sinto-me enclausurado,
em casa, encasulado.

Ah, que pena!
Vejo uma avezinha igual a mim,
engaiolada, na casa vizinha.

Ó, avezinha vizinha
- questiono e parece que ela me acena -,
até quando tua castidade em clausura tão pequena?...

- A vida inteira, apenas.
Ah, que pena!

Ouvi teu trinar.
Pede socorro a alguém, pra te soltar !...
Como trinas bem !...

Quem é teu cuidador?
- Lá vem ! . . .

Ele bate palmas, feliz, só em ouvir o teu trinar.
Como trinas bem !...
Pensa até que és feliz também.
Tua ingenuidade diz que ele vem te salvar.

E a avezinha trina forte, cada vez mais forte.
Nem percebe que só faz mais contente
o seu cuidador inclemente, ali presente...

Um dia a avezinha percebe que o seu cantar
já não soa tão arrepiante como antes.
Vai se quebrantando, se arrefecendo
e pouco a pouco soando irrelevante,
até que, num último moirejo de liberdade,
o intraduzível trinar motiva sua "causa mortis".

Ah, que pena !
Teu cuidador enfim soltou
tuas penas, apenas.