ROSTOS ROTOS
ROSTOS ROTOS
A dura tarefa da vida:
transformar em poesia
estes rostos queimados
pela exposição ao sol inclemente,
ressecados pelo frio cortante,
marcados pela fome devastadora.
Rostos rotos,
envelhecidos, esculpidos
pela existência rude,
pela experiência
com a densa e perigosa floresta,
com a ríspida montanha,
com a pedra bruta,
com o sol escaldante,
com o sal dos mares bravios,
com o frio polar siberiano.
Rostos dos Andes, dos desertos,
das savanas, dos sertões, das estepes,
das ilhas mais remotas e distantes.
Rostos humanos dilapidados
pelo sofrimento,
que aos olhares mais atentos
amargamente revelam
o segredo da luta diária, intensa, renhida:
rostos que definem uma história,
a geografia mais desumana.
Curvo-me respeitosamente
diante destas vidas simples e humildes
que passam pela Terra
anonimamente,
deixando apenas o livro da vida.
NELSON MARZULLO TANGERINI