Poesia em tempos de pandemia
Em tempos de pandemia
Por onde andas minha poesia?
Não há encontros, não há espaço para um abraço.
Mesas foram recolhidas dos passeios públicos;
Portas fechadas...
Amantes distantes...
Olhos preocupados espiam pela fresta da janela
As camisas amarelas que desfilam
Nas ruas da morte;
Como se ignorância fosse sinônimo de sorte.
Em tempos de pandemia
Não sei por onde anda a minha poesia.
Se ficou grudada nos seus lábios
No último beijo que te dei,
Naquele quarto que já não sei,
No banho de cachoeira que tomei naquele dia de sol
Ou se sobrevoando aquele horizonte
Que não posso sair pra ver de novo.
Ao vivo – Lives – aos vivos.
Aos mortos, Pai-Nosso à distância;
Lacrou a vida, o caixão e a cova é coletiva.
E ainda sim procuro minha poesia,
Da sala ao banheiro, do quarto ao quintal...
Nas dependências da minha home-prision.
Tudo ficou tão denotativo,
As figuras de linguagem usam máscaras
E talvez se escondam dentro de mim; fique em casa!
Poesia em tempos de pandemia... combina?
É muito senso comum pra pouca Ciência;
Mentes vazias pedindo cloroquina.
Minha poesia deu lugar ao temor e à dor?
Lembro-me que ela era forte em mim...
Ou quem sabe ela está por aí?
Dentro das mochilas de entregadores delivery,
Passageira no banco detrás do carro de transporte de app?
Nas casas em solidão ou sob o cobertor de quem não tem casa?
Nos riscos que correm ou nas lágrimas que escorrem
De todas as equipes médicas e profissionais da limpeza de áreas hospitalares?
Talvez minha poesia deva residir nos atos desse heróis.