Reconectar

Reconectar

Os vetores que nos rodeiam não deveriam ser mosquitos, nem portar vírus, mas as setas de cupido.

Sei que esse anjo maroto e infantil tem errado a pontaria, mas convenhamos, alguém com fraldas o faria?

Milhares de bocas ansiosas por beijos sinceros, tem se afastado há tempos. Não são os perdigotos que tememos. Enfrentamos novos tempos, onde a indiferença talvez seja o maior veneno, que mata aos poucos, cruelmente, e numa solidão dolorosa nos encaceramos achando o conforto estéril nas telas de led sempre sorridentes.

Ah, a que triste fim está condenada a humanidade, tão frenética em suas ansiedades, ambiciosa em suas conquistas, e depressiva pelas falsas cordialidades.

Volto então para a segurança de tempos idos, tempos que não confortam mais, já se foram e cumpriram seu papel. Penso então no presente. Idealizo promessas, sonhos e utopias, ainda que cercada pela solidão coletiva e discordias do dia a dia. É meu lapso de esperanca, ao qual me agarro como uma crianca que teme se perder da mãe, que teme se perder da vida, ou ao significado que dela adviria.

Nesse vai em vem os dias passam, e em seus altos e baixos, tento aprender alguma coisa. Que a existência está além do passar das horas, mas em viver e observar com amor a sutileza do tempo.

Laços se desfazem, novos abraços me acolhem e, aos poucos, procuro regurgitar alguns nós que ficaram presos na garganta, em um grito que nunca saiu.

Quando chegar o fim de tudo, a unica certeza que temos, tentarei de alguma forma reconectar-me. Darei um olhar amoroso ao mundo, do qual me despeço todos os dias. Quem sabe um dia eu volte, sabendo de todos os caminhos percorridos e possa, com mais experiência e menos fascínio, ser a flecha que cura, mesmo estando ferido.

por: Rose Paz

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Rose Paz
Enviado por Rose Paz em 30/03/2020
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