BOCEJO DOMÉSTICO
Entrei nas roupas
depois do bocejo doméstico
na manhã invernal.
Não tenho medo do futuro.
Penso que ele me suportará
pois não tenho a convicção dos idiotas,
tenho a dúvida!
A dúvida que me faz qualquer,
pensador das utopias
prosador das ficções
leves e lúdicas.
A dúvida me faz universal
na pequena aldeia onde moro
pequena aldeia de cidade grande
quatrocentos metros quadrados
de quase virtualidade do mundo
grande aldeia de calangos!
Vestido para grandes dias
deixo a aldeia para viagem.
Claro, de ida e de volta:
nenhum pedágio não pago
impedirá meu retorno
a meu castelo de cores grenás
em minha aldeia quase-virtual
incrustada em paradoxos urbanos:
Seguranças inseguras
Solidão acompanhada
Vácuos em meios materiais
Argumentos desalinhavados.
Como minha morena está bonita
Em seu novo corte de cabelo!
Durante meu bocejo doméstico
na manhã invernal
contemplando pássaros da aldeia
quase-virtual
vivo aquele momento da transformação
da ficção em virtualidade quase-real
momento justo da curvatura da vara
curva da vida
instantes memoráveis de quase-qualquer que sou.