PARA DEPOIS DO CARNAVAL...

Para depois...ficam as alegorias.

Todas, sem retoques e sem maquiagens

Tudo para depois do Carnaval.

Para depois do Carnaval

Ficam todas as avenidas

Dos sambas sem enredos

Que passam...para bem além

Do depois do Carnaval.

Para depois do Carnaval

Fica a harmonia sonhada

Etérea poesia no pesadelo que dispara dor

Essa que não passa nunca

Violência que emoldura as cenas,

Nem mesmo depois do Carnaval.

Ah, do tudo que pode ser

Só sendo para depois do Carnaval...

Para depois do Carnaval

Ficam todos os projetos sem projetistas

E suas estruturas que desabam sem projeto algum

Mas..sempre soerguidas para depois do Carnaval.

Para depois do Carnaval

Fica o tum- tá dos bate- estacas das avenidas

Todos os corações encharcados em agonia

Descompassados de vida

Arrítmica muda, sem ressonância,sem mestre de bateria

Música áfona que ninguém ouve:

Quem sabe...alguém a ouça depois do Carnaval?

Para depois do Carnaval

Ficam todos os depois nunca alcançados,

Afogados pelas águas áridas que descem

De todos os céus prometidos e confiscados

Águas fétidas e lamacentas escorridas dos nadas

A verter chorume, a denunciar pelos meios-fios dos trajetos

O tudo deteriorado de todos

Maravilhosos enredos cantados

Compostos dos decompostos

Do tudo..

Que sempre fica

Para depois do Carnaval .

Para depois do Carnaval

Ficam as torrentes em correntes de confetes e serpentinas

Guardados como nos velhacos sacos de promessas

Que nunca vingam

Porque é preciso esperar pelas fantasias premiadas.

Sempre...para depois do Carnaval.

Para depois do Carnaval

Fica a vida a acreditar que passa

Pela comissão julgadora dos milagres

Os das subsistências viscerais dos semi-vivos

Telas surreais da vida que dança

Pelos tantos ritmos esquecidos do depois dos carnavais!

Na perplexidade de passar incólume

Pelos caminhos ao futuro

Passa então a criança presente

Também no ventre gestante

Íntegro de fé sincrética que ora pela avenida das horas.

Que ao passar pelo seu tempo

Toca a dor e agradece pela infância ida inteira!

Já num samba dum pé tenro

Ali passante , só pela sorte de ainda

Não ter sido mirado pelo destino sem rota

Que chega sem avisar, só a espreitar a melhor hora.

Mas tudo isso será só para depois do Carnaval.

É sempre para depois do Carnaval

Que ficam o os devaneios quiçá realizados

Nos alegóricos carros passageiros,

De todas as alegorias que passam repassadas sem abre alas!

Justo ali, na glória momentânea

Onde fica a vida para depois de tudo

Sem mestre sala, sem porta -bandeira...

Qual a bandeira?

Como um velha guarda dos tempos que tremula

Sem nunca chegar a troféu algum,

É justo ali que fica o

Tudo no sonhado sonho de

Se deixar ficar para depois do Carnaval.

E como ainda não é depois do Carnaval...

Subsiste a esperança a pino,

Na batucada surda do sempre

Pelo estandarte de direito:

O de se ser comissão de frente...

Ao menos enquanto ainda for Carnaval.

Para depois do Carnaval, então

Fica a vida a esperar pelo próximo desfile campeão

Vida que nunca desfila a sua existência plena

E onde toda sua apoteose descansará

A insistente vontade de um dia ter sido.

-Nota dez! grita a voz inaudível.

E alguém desperta na calçada

sobre o meio fio dum grito existencial.

Um dia, quem sabe?

Se milagre, também será só para depois do Carnaval.

****

Nota da autora: em homenagem ao meu país. O PAÍS DO CARNAVAL.