o mato está cada vez mais alto para ser ignorado
ouço as histórias
dos anciões
sobre os anos de sua
juventude.
ouço sobre comidas ausente nos pratos,
ouço sobre decisões entre trabalhar ou
estudar.
ouço sobre pais que fugiram ou
expulsaram seus filhos da própria
casa.
ouço sobre livros antigos e discos
de vinil
cobertos com o tempo,
ouço sobre homens que trabalharam
até morrer
em fazendas
ou em prédios que não existem
mais.
ouço sobre a miséria humana,
o homem que não janta para
seu filho comer,
a mulher maltratada, cansada,
abusada
pelo marido, que apanha do amor
de seus filhos, por seus filhos.
ouço sobre animais magros
que cuidam do pouco que recebem
com seus dentes e latidos.
ouço sobre homens nojentos
e crianças traumatizadas,
cuja infância foi extirpada.
ouço sobre mortes que vieram
cedo demais
e
tarde demais.
e a nostalgia se esvai
como a névoa que cobre
o céu
pela manhã,
pois eu ainda vejo
tudo isso
acontecendo.