AMOR CONTINUADO
Amanhece o dia
E eu, sem poesia,
Não sei o que te falar.
Te olhando no espelho,
Fazendo barba e cabelo,
Sei que quer me escutar.
Que desafio imenso
É esse sangrar por dentro
Com medo de machucar
O amor que há tanto está!
Chega a hora do almoço,
E o beijo no pescoço
Que sempre aconteceu
Já entre nós se perdeu.
Ouço o silêncio mudo
Desse grito tão surdo,
Há muito sendo guardado
Em dois corações abalados.
Mais uma tarde a sós,
Cada um sem um de nós,
Vivendo sem planejar
A noite que vai chegar.
De repente, escureceu.
A noite, enfim, nasceu,
E a penumbra da escuridão
Trouxe pra nós solidão.
Estou na televisão,
Você, no jornal e colchão,
E o nosso pra sempre "sim"
Ficou sem você e sem mim.
Assim é a vida de amantes
Que esquecem de, a todo instante,
Regar sua planta do amor,
Todo dia, o quanto for.
Assim é a vida dos errantes
Que não fazem, como antes,
O contínuo e gostoso trabalho
De amar, apesar dos atalhos.
Assim era o nosso amor
Que por atropelos passou,
Mas construído com exatidão,
Deixou vencer a paixão!
Assim é o amor meu e seu:
À rotina sobreviveu
E, mesmo estando cansado,
Se fez estar continuado,
Porque melhor do que ser sozinho,
É encontrar pouso certo num ninho.