AMOR CONTINUADO

Amanhece o dia

E eu, sem poesia,

Não sei o que te falar.

Te olhando no espelho,

Fazendo barba e cabelo,

Sei que quer me escutar.

Que desafio imenso

É esse sangrar por dentro

Com medo de machucar

O amor que há tanto está!

Chega a hora do almoço,

E o beijo no pescoço

Que sempre aconteceu

Já entre nós se perdeu.

Ouço o silêncio mudo

Desse grito tão surdo,

Há muito sendo guardado

Em dois corações abalados.

Mais uma tarde a sós,

Cada um sem um de nós,

Vivendo sem planejar

A noite que vai chegar.

De repente, escureceu.

A noite, enfim, nasceu,

E a penumbra da escuridão

Trouxe pra nós solidão.

Estou na televisão,

Você, no jornal e colchão,

E o nosso pra sempre "sim"

Ficou sem você e sem mim.

Assim é a vida de amantes

Que esquecem de, a todo instante,

Regar sua planta do amor,

Todo dia, o quanto for.

Assim é a vida dos errantes

Que não fazem, como antes,

O contínuo e gostoso trabalho

De amar, apesar dos atalhos.

Assim era o nosso amor

Que por atropelos passou,

Mas construído com exatidão,

Deixou vencer a paixão!

Assim é o amor meu e seu:

À rotina sobreviveu

E, mesmo estando cansado,

Se fez estar continuado,

Porque melhor do que ser sozinho,

É encontrar pouso certo num ninho.

Nara Minervino
Enviado por Nara Minervino em 21/12/2019
Reeditado em 23/12/2019
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