A CASA

Na penumbra da noite

Observo a casa

Agora quieta e adormecida

Vejo a escada de madeira outrora envernizada e hoje sem brilho e rangente

Lembro das crianças subindo e descendo correndo e gritando

Lembro de mim aos dez anos...

A casa agora suspira saudades, as cenas são lentas, silêncio atormenta

Lembranças de tempos felizes, lembranças também de tempos dificeis

A velha sala de tantos momentos, de tantos Natais, festas noturnais...

A estante de livros imponente e guerreira, traz conhecimento pra uma vida inteira, traz sabedoria nos livros empoeirados, alguns meio sujos e embolorados

A mesa da janta, lembranca gostosa, comidas especiais em algumas datas, misturas mais simples as vezes mirradas, naqueles longinquos anos oitenta, se não tinha nada faziam polenta, o fubá cremoso servido com molho, que não era caro.mas era gostoso

A antiga cozinha, paredes pintadas, não azulejadas, no canto o fogão e a geladeira de cores distintas assim como os pratos, alguns desbeirados, e os tão famosos duralex marrons que tempos tão bons que tempos incriveis

Nós fomos felizes...

Os quartos em cima bastante espaçosos, o quarto dos pais, e o das crianças, a vista pra rua e o quintal dos fundos, nos quartos magia, nos quartos dois mundos

Espaço de sonhos, de muitos segredos locais de lazer, locais de desejos

A beliche branca já sem a escada e no guarda roupa sacolas em cima, silêncio total, tristeza saudades, silêncio mortal na casa imortal...

Ali tudo igual

Mas tão diferente

Lembranças da gente.

No fundo as plantas que se destacavam, perdidas em meio a grama tão alta, que já virou mato...

Resquicios de ratos, barulhos de sapos, espaço baldio e tão mal cuidado, insetos noturnos por todos os lados, salvando o quintal com suas sinfonias

Lugar em que os dias em tempos atrás trazia alegria e trazia paz...

Encosto a porta e giro a chave...

E fecho a casa pela última vez, trancando ali tanta história bonita, trancando ali parte das nossas vidas

Trazendo de lá apenas a saudade, a lágrima escorre e rola na face, encosto o portão

Pedindo perdão pela placa de venda

Chegando a calçada eu aperto o passo

E entro no carro

Começo a chorar

E lanço um olhar

Comprido e profundo

A casa é um mundo

Eu ligo o carro.sem olhar pra trás.

Jurando pra mim não voltar nunca mais...

Alanderson Hudson de Marcos
Enviado por Alanderson Hudson de Marcos em 22/11/2019
Código do texto: T6801012
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