Matando a Saudade
(*Elias Alves Aranha)
Naquele dia matei a saudade,
Do tempo em que morei na roça,
Tomei a água de pote,
O café quentinho da hora,
Passei a chuva na choça,
Vi a água limpinha a correr,
Cortei a lenha a machado,
Apreciei o gado o capim a verde a comer,
Data em que ficou registrado,
Retratando o meu passado.
A floresta verde da serra,
Na cabeceira da fazendinha,
O cheiro da flor de laranjeira,
A estrada lisa, de terra,
O cacarejar das galinhas,
O rangido no abrir da porteira,
O cantar do galo no terreiro,
O bem-te-vi na goiabeira,
O vento assoprando no coqueiro,
E vaca amamentando o terneiro.
Que vida gostosa essa!
Eu exclamava embevecido,
Onde a lida não exige pressa,
E a mulher acaricia o marido,
Onde o homem aprecia o luar,
Com o amor puro e verdadeiro,
No cheiro da relva faz à preliminar,
A noite sentados no terreiro,
Logo mais unir-se hão a se amar,
No aconchego abraçar, dormir e sonhar.