Quadrante para um fauno

Metade em mim é curva

a outra metade é reta.

Não o que se mede

nem o que escapa ou perde

é a metade correta

do ponto que se reflete.

Metade em mim é terra

a outra metade é mar.

Não por onde se navega

ou se colhe desventura

o caminho que me profana

é o destino que se aventura.

Metade em mim é labirinto

a outra metade é encontro.

Não o que se nega no espelho

nem na face se escreve

a linha quando desfia

no mesmo rumo se tece.

Metade em mim é palavra

que se completa com o silêncio.

A pedra é o que define

o verbo só se revela

não por acaso ou sorte

de quem persegue ou apela.

Metade em mim se perdeu

a outra metade não conta.

Não por desejo ou claridade

o fogo da noite é tormenta

toda alma tem a idade

do corpo que se inventa.

Metade em mim se comove

a outra metade é atenta.

Não que a mão traga pronta

a sina de cada verso

embora a rima esconda

o metro do universo.

ubirajara almeida
Enviado por ubirajara almeida em 16/11/2019
Reeditado em 16/11/2019
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