Quadrante para um fauno
Metade em mim é curva
a outra metade é reta.
Não o que se mede
nem o que escapa ou perde
é a metade correta
do ponto que se reflete.
Metade em mim é terra
a outra metade é mar.
Não por onde se navega
ou se colhe desventura
o caminho que me profana
é o destino que se aventura.
Metade em mim é labirinto
a outra metade é encontro.
Não o que se nega no espelho
nem na face se escreve
a linha quando desfia
no mesmo rumo se tece.
Metade em mim é palavra
que se completa com o silêncio.
A pedra é o que define
o verbo só se revela
não por acaso ou sorte
de quem persegue ou apela.
Metade em mim se perdeu
a outra metade não conta.
Não por desejo ou claridade
o fogo da noite é tormenta
toda alma tem a idade
do corpo que se inventa.
Metade em mim se comove
a outra metade é atenta.
Não que a mão traga pronta
a sina de cada verso
embora a rima esconda
o metro do universo.