Quadrante para uma criança adormecida
Poeta,
o tempo não é marcado pelas horas
nosso segredo é a vida
a se mover intensamente
pelas veias fartas do século.
O tempo tem hora própria
no compasso do quadrante
carregado pelo vento
na fria fragrância dos sonhos.
A vida tem ritmo atento
no passo de cada relógio
que trança os fios dos dias
fundidos no gênio de Deus.
O tempo não tem idade
o coração é o tambor
a martelar o ponteiro no azul
e a história escreve no chão
o nome de cada cantor.
O tempo não tem pudor
é o andor levado nos anos
na procissão dos minutos
que foge feito areia
na brevidade do outono.
O tempo é nosso canto
é a faísca que acende
o peito mudo que oculta
um canto pleno de amor
que vai acordar a canção
no ruído de outra aflição.