Apenas durmo
Na mais escura noite
Eu me preparo para dormir
Antes, devo me despir de tudo
Não de minhas roupas
Mas de tudo que estou usando no mais profundo da minha alma.
Começo pelas dores e decepções, pois elas são as mais delicadas de tirar.
Depois tiro as lágrimas, são poucas, mas cada uma delas carrega dentro de si um grito reprimido.
Logo após isso, eu retiro minhas paixões, elas ainda estão quentes, por isso tomo cuidado para não me machucar-me com elas.
Vou retirando com urgência minhas indecisões. Ah, essas são as mais difíceis, há muitas delas, mas com um pouco de tempo todas se vão uma a uma.
Tirar a saudade não foi a parte ruim, mas acha-la foi complicado, ela era estava escondida, gostava de se mostrar apenas às vezes, em momentos inoportunos. Quando a retirei, ela me faz ver pessoas e coisas, mas não demorei muito nisso, ainda não acabei o que vim fazer.
Procuro retirar meu medo, ele não é grande coisa, mas sempre está ali, rondando, esperando apenas uma oportunidade para crescer. Retiro ele carinhosamente para que não se altere, não preciso de confusão a esta hora.
Ao retirar minhas lembranças, não consigo evitar um sorriso, elas saem com facilidade, porque por mais que estejam saindo, sabem que para elas nunca será o fim.
E então, eu retiro os sorrisos que vem sem avisar, esses são difíceis de segurar, mas ainda assim consigo retirar todos.
Retiro também minhas esperanças, elas estão fracas, são fácies de tirar.
Quando retiro minhas ansiedades, tenho que arrancar uma a uma, elas estão grudadas pelos cantos, pequenas, mas assim como o medo, elas sempre estão por lá.
E por fim, retiro o amor. Fico assustada ao ver que ele está por toda a parte, chega a ser engraçado, é divertido lidar com ele, ele tenta ficar, mas digo que ele também precisa se retirar, e então ele o faz.
Agora, que retirei tudo que era necessário
Posso dormir sem nada que me impeça, posso deixar minha mente que já está vazia finalmente repousar.
E então, eu apenas durmo.