DESEJO
Eu quisera que a poesia nunca respirasse
A desolação desta vida material
Nem a dor do corpo, nem a fome, nem a sede
Nem a miséria física com todo o seu cortejo de sofrimento
Eu quisera que a poesia
Não falasse da ingrata vida real
Fosse apenas a cavatina da alma
A cantar a beleza de outra vida
D'outra vida mais serena e mais suave que esta
Eu quisera
Que a poesia fosse só um seio amigo
Onde o coração dilacerado
Pela seta cruenta de existir
Encontrasse o doce lenitivo para suas angustias...
Sim, bem quisera que a poesia
Nunca fizesse brotar nos olhos de quem a lesse
A lagrima de tristeza e sofrimento
Pela lembrança de uma vida cruel.
Quisera,sim, que a poesia
Fosse o oásis amigo no deserto da existência
Fosse sempre, no meio de amarguras mais imensas.
Um doce favo de mel.