UM FIEL AMIGO
UM FIEL AMIGO
Olho adiante
numa esquina de rua deserta,
uma cena penosa:
um cão sendo abandonado por seu dano.
O cão não quer ficar só,
sem a estima de seu dono;
mas o dono, insensível, não o quer mais;
despreza o amor de seu cão
porque não o sabe amar.
O cão implora
que não o abandone:
com gemidos sentidos; com lágrimas
nos olhos; com a alma tristonha.
Mas ele,
não quer mais ser seu dono;
e, olhando-o com menosprezo,
e com a cara carrancuda,
vai embora com o carro em disparada.
O cão, em desalento,
sente-se sozinho e choraminga
naquela esquina
de rua deserta.
Deitado,
ele ergue o focinho
e tenta farejar no ar,
o cheiro de quem foi seu dono.
As horas passam. Anoitece.
O cão continua alí,
desolado na esquina anoitecida.
Bem cansado, ele adormece.
Estranhamente,
sonha com seu dono
levando-o de volta pra casa.
Amanhece,
e quando ele abre os olhos carnais,
ainda sonolento,
vê um vulto de homem na sua frente.
Alegra-se, esperançoso,
imaginando que é seu dono
que veio buscá-lo.
Ele ainda está deitado.
Carinhosamente,
o homem alisa-lhe a cabeça peluda.
Ele sente-lhe o cheiro,
e percebe
que não é seu dono que está alí,
perto dele, acariciando-lhe.
Então, sabe que algo de bom
desperta de novo
dentro dele. Sabe que pode
novamente amar.
Levanta-se,
e olha fixamente
para aquele homem que lhe
dá atenção, carinho, amor.
Nem se importa
que o homem seja
um mendigo, um morador de rua.
Ele
também agora,
é um cão de rua.
Elege-o seu novo dono.
E segue com ele, para ser-lhe
um fiel amigo;
e viverem juntos,
uma nova vida afetiva.
Uma vida incerta, de difícil
sobrevivência;
mas apoiada decerto,
no sentimento
sublime do amor.
Escritor Adilson Fontoura