Poesia
SELVAGEM
Já cuspi em muitos pratos que comi
Beijei a musa com uma navalha entre os dentes
só para ver sangrar seu sorriso sereno.
Exorcizei santificados
Santifiquei endiabrados
Semeei a loucura nos campos da sanidade.
Fui Nero, fui fogo, fui aço.
Deixei de ser o bom selvagem
Para ser apenas selvagem.
TOLO
Cada tolo com seu ouro
Cada cego com sua lupa
Um banquete de fome
Que teu olho consome.
Trincheiras vazias
Cidades repletas
Já não sei quem mata mais
Teu capital ou tua guerra.
MINHA FLOR
A cada açoitada há de nascer uma flor
Dessas que brotam sem querer brotar
Que falam mil línguas entranhas,
Mas sem saber ouvir,
Sem saber calar-se.
Estou atracado em teu medo
Quero quase amor, não guerra de nervos.
ROTINA
Viciosamente acordar
Sobre a penumbra cega do egoísmo
Viciosamente alimentar-se
de detritos pobres de sonhos.
Viciosamente adaptar
mais um degrau na própria prisão.
E lavar os olhos peregrinos
que fingem não ver todo caos.
Viciosamente ajoelhar-se
Munidos de reação
entregando alvos e munições.