Poesia

SELVAGEM

Já cuspi em muitos pratos que comi

Beijei a musa com uma navalha entre os dentes

só para ver sangrar seu sorriso sereno.

Exorcizei santificados

Santifiquei endiabrados

Semeei a loucura nos campos da sanidade.

Fui Nero, fui fogo, fui aço.

Deixei de ser o bom selvagem

Para ser apenas selvagem.

TOLO

Cada tolo com seu ouro

Cada cego com sua lupa

Um banquete de fome

Que teu olho consome.

Trincheiras vazias

Cidades repletas

Já não sei quem mata mais

Teu capital ou tua guerra.

MINHA FLOR

A cada açoitada há de nascer uma flor

Dessas que brotam sem querer brotar

Que falam mil línguas entranhas,

Mas sem saber ouvir,

Sem saber calar-se.

Estou atracado em teu medo

Quero quase amor, não guerra de nervos.

ROTINA

Viciosamente acordar

Sobre a penumbra cega do egoísmo

Viciosamente alimentar-se

de detritos pobres de sonhos.

Viciosamente adaptar

mais um degrau na própria prisão.

E lavar os olhos peregrinos

que fingem não ver todo caos.

Viciosamente ajoelhar-se

Munidos de reação

entregando alvos e munições.

Marcos Marcelo Lírio
Enviado por Marcos Marcelo Lírio em 22/04/2019
Código do texto: T6629444
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