Oitenta tiros
Tiros de advertência? Acidente?
Dá um tempo, não mente!
Gatilho puxado, sangue frio, execução
Se você acha normal, também tem sangue na mão
Eles vêem o povo como inimigo, entende?
E querem manipular nossa mente:
Pra eles você é mais um pra dar lucro pro patrão
E não vai se dar conta disso enquanto vê o próximo como vilão
Olha o noticiário – Não é medo o que sente?
Derramamento de sangue diário enquanto você vende
Seus minutos mais preciosos por um pedaço de pão
A desigualdade é advertência – Um tiro de canhão
Pelas ruas as batalhas de uma guerra latente
o Estado assassino matando gente:
Gente que trabalhava coma furadeira na mão
Ou já estava no ponto, esperando a chegada do busão
Você não pode sentir segurança onde quer que ande
Quando quem deveria te proteger é quem mais mente
E tenta te fazer acreditar que oitenta tiros não é execução
Depois silencia como se o assassinato não fosse motivo de comoção
Você que é da periferia, mulher, indígena, LGBTQ, negro, negra – você sente
O peso deste alvo nas costas, medo permanente
De se tornar mais uma poça de sangue no chão
Uma história interrompida, dormindo pra sempre no caixão
O imposto que você paga se torna bala no pente
E você segue pelas ruas com medo e impotente
Depois de um dia de suor e exploração
Sonhando com saúde, comida e educação
O imposto que você paga se torna bala no pente
E com sangue nos olhos te ameaça caso você tente
Questionar o sistema que te mata com tiro ou exclusão
Ou te silencia. Ou te leva num camburão
Há uma guerra que tenta dizer que é paz e ela é inclemente
E as minorias precisam se lembrar que juntas são maioria e seguir enfrente
Pensando dá pra ver que quem espalha o ódio é o verdadeiro vilão
E usa a máquina do Estado pra semear destruição
Há uma guerra aí fora matando gente boa e inocente
E você precisa tomar um lado antes de ir adiante:
Quer lutar ao lado do explorador? Vender a alma e o coração?
Ou do lado de quem quer o direito de não ter seu sangue regando o chão?
09-04-2019