Perdido Andante
Ando perdido na terra
Um lugar qualquer
Que se enche de juízes por todo lado
Que julgam sem conhecer
Sobre esta esfera giratória
Há muito achatada
Aprendi que é redonda
Mas eu sei que é quadrada
A humanidade escapuliu
Da essência pra que foi criada
Condena-se a si mesma
Por querer estar onde não é chamada
O egossistema faz furor
As lutas que se travam não são mais
Do que contra o amor
Quem segue os passos da caridade
Há que ter pavor
Contra as boas acções há sempre uma força maior
A espécie que habita
Neste planeta rude
No que a une, desacredita
Tem atitude, não virtude
Dinassouros duma nova era
Carnívoros mentais
A humanidade é uma fera
Que ataca em plenos hospitais
Por cá ando perdido
Tenho querido fugir
Para encontrar um reino unido
Que me impeça de sucumbir
Mas este ser que cá habita
Não fez apenas borradas
Usou a crença em que acredita
Para deixar as mãos pesadas
Construiu algo que case
Com a locomoção das datas
Para que quanto à evolução
As coisas sejam menos chatas
Enquanto isso
Eu dirijo o meu olhar
Às vestes das infraestruturas
Para o mesmo alimentar
Ando perdido por aí
A ouvir os sons dos carros
E a ver rostos aborrecidos como o meu
A acenderem vários cigarros
A ouvir os ruídos das nuvens
A ameaçarem mais uma chuva
As batucadas dos recipientes nas moradas
A conservarem a água turva
Na cidade ou ruelas
Consigo ter a sensação
De que o vazio nas panelas
É o que enche a circulação
Vejo negros, vejo brancos
Mães e pais atrapalhados
Filhos atrás dos bancos
Para recolherem alguns trocados
E salvarem seus casamentos
Ou alguém duma doença
Pois o amor ainda é
Da humanidade uma crença
Mas vejo o que mais irrita
Judas e Zés
Líderes que apreendem a guita
E não querem saber de vocês
Um português que complica
Uma colonização moderna
E irmãos que se vão tirando as vidas
Por causa de merdas.