Sobre o dia
Nunca liguei para o dia
O invadir da luz do sol no chão do quarto
Os corpos se levantando para os afazeres
Monótonos e robotizados
Acreditam que é o começo do intervalo
Deus, exausto com o estapafúrdio
Cotidiano de toda essa humanidade
Rasgou sua voz em claridade
Que é para fazer se enxergar o escândalo
E voltou a dormir, desprovido de horário
Rostos insatisfeitos
Nesses prédios enfileirados
A rotina, penetrada nas ruas, venera o dia
E produz infelicidade doentia
A epidemia temporal dos humanos
Fico à mercê da gente toda
Que não é toda gente
Da filosofia à procura do paroxismo da razão
Para explicar o que não há
Alcança os olhos, mas não pode tocar
Então, nasce o dia
Os raios solares brigam com o concreto
Com o teto do princípio do silêncio
Que vai se transformando em mar barulhento
Faço da minha insônia bem-vinda