ZABILA E O TRÊS OITÃO

Aprendi a amar Barrocas
E o povo da Boa União
É lá que queimo minha fogueira
Em noites de São João

No boteco do Zabila
Com os amigos encontrei
A grandeza do sertão
O cabra é meio torto
Mas grande é o seu coração

O homem é muito medroso
E além de feio é temeroso
O cabra tem até
Um pouquinho do tinhoso

Para largar a cachaça
Já fez promessa...
Amarrou fita no pé
E até bebeu chá de caneleiro
Misturado com mastruz

O homem é tão corajoso
Que corre da rã, da gia e do sapo
Como o diabo corre da cruz

Mas um dia no boteco
Rolou a maior confusão
Dona Maria gritava
No maior desespero

“O Zabila vai ser preso
Pela federal
Por falta do alvará
Pelo amor de Deus
Me ajude Josevá”

E no boteco do Zabila
Se formou logo um fusuê
O delegado John
Com a pistola na mão
Pedia calma a multidão

Não tenha medo meu povo
Eu sou amigo de Joseval
E noivo de Ana Célia,
E Marlon é como se fosse
Para mim um irmão

Se estou neste boteco
Não é por causa do alvará
Para mim o homem é ficha limpa
Já pescou robalo no sertão
Já bebeu água de cacimba
E adora um baião

O que me trouxe aqui
Foi um rosca de umbu
Uma cerveja bem gelada
E um aperto de mão.

E num gesto de abnegação
Botou o três oitão
Em cima do balcão
Dizendo: guarda pra mim
Zabila meu amigo
Zabila meu bom anfitrião

O Zabila ao ver o ferro
Com aquele canão
Se tremeu todo
Se apertou pelas paredes
E escorregou pelo chão

E Zé Beiju lá no canto
Não sabia se gritava
Não sabia se corria
Com uma mão no chapéu
E outra no calção

Zabila num grito quase louco
Disse: Ana Célia minha irmã
Me tire desse sufoco
Guarde esta 48
Pois nesse trem
Eu não pego não

Cuide disso aí
E beba uma 51
Pois vou acolá bem apressado
Matar uma preá pro delegado

E no boteco do Zabila
Acabou-se a confusão
Todos fizeram um brinde ao sertão
Ao povo de Barrocas
E outro para o John
O delegado nosso irmão