Cantiga Para Mário Faustino

Subia etéreo, estava em desvantagem,

o alquimista usava a arte do delírio.

Mesmo sem túnica ia contra a aragem

da confissão, o fausto ouro do martírio.

Ao ver-me nesse estado, é desvario

ou descompasso suicida da imagem?

Numa cruz, seguia o discurso do rio,

um quadro agônico vivo da paisagem.

Cantava. Era o contraponto ao choro

dos fiéis, mil vozes a prantear no coro

o cortejo insano dos que vão aos céus.

Numa alegoria infernal de Brueghel

o trompetista exaltado soprou o flughel

e os suntuosos desfilavam já sem véus.

ubirajara almeida
Enviado por ubirajara almeida em 15/11/2018
Reeditado em 18/11/2018
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