UNIVERSO ESPIAR

Riacho do urubu

Vem lá da serra grande

É lá onde ele esconde

O sertanejo calado

A onça, a cascavel e o viado

Cortando a caatinga

Na adversidade exuberante

Da nascente, pra vazante

De noite o cruzeiro do sul

Orientando o caçador

Que mais tarde vai jantar tiu

Na mata o pau-branco aponta

O quanto à chegada é distante

O cheiro do orvalho anuncia

O amanhecer no sertão

Caititu e suas crias

Riscando a sua trilha

Em cima da cerca o cancão

Com seu grito prestando conta

Do local da sabiá

Pro valente vaqueiro

Com seu cavalo de campo riscar

Por entre os galhos ligeiro

Sem perigo de se machucar

Protegido pelo gibão

O chocalho denuncia

O local da rês estar

Já faz dois dias

Que a vaca mimosa sumiu

Escondendo sua cria

Que com certeza pariu

No olho d'água a água é fria

O sertanejo enche a cabaça

Ela brota de dentro do chão

Não tem preço, é de graça

A broca no bucho anuncia à fome

Na panela de barro o feijão some

Com rapadura raspada

Na ponta do seu facão

Com um pedaço de toicim

Oriundo de um bacurim

Trazidos dentro do bornel

Com um favo de mel

Depois tiro um cochilo

Em baixo do Juazeiro

Pensando quando voltar

O que vou fazer primeiro

Com certeza pego morena

Com seu gostoso cheiro

Coloco-a na baladeira

Pro molde nós namorar

Varando a noite inteira

Pelo buraco da telha

Pro universo espiar.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 03/11/2018
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