UNIVERSO ESPIAR
Riacho do urubu
Vem lá da serra grande
É lá onde ele esconde
O sertanejo calado
A onça, a cascavel e o viado
Cortando a caatinga
Na adversidade exuberante
Da nascente, pra vazante
De noite o cruzeiro do sul
Orientando o caçador
Que mais tarde vai jantar tiu
Na mata o pau-branco aponta
O quanto à chegada é distante
O cheiro do orvalho anuncia
O amanhecer no sertão
Caititu e suas crias
Riscando a sua trilha
Em cima da cerca o cancão
Com seu grito prestando conta
Do local da sabiá
Pro valente vaqueiro
Com seu cavalo de campo riscar
Por entre os galhos ligeiro
Sem perigo de se machucar
Protegido pelo gibão
O chocalho denuncia
O local da rês estar
Já faz dois dias
Que a vaca mimosa sumiu
Escondendo sua cria
Que com certeza pariu
No olho d'água a água é fria
O sertanejo enche a cabaça
Ela brota de dentro do chão
Não tem preço, é de graça
A broca no bucho anuncia à fome
Na panela de barro o feijão some
Com rapadura raspada
Na ponta do seu facão
Com um pedaço de toicim
Oriundo de um bacurim
Trazidos dentro do bornel
Com um favo de mel
Depois tiro um cochilo
Em baixo do Juazeiro
Pensando quando voltar
O que vou fazer primeiro
Com certeza pego morena
Com seu gostoso cheiro
Coloco-a na baladeira
Pro molde nós namorar
Varando a noite inteira
Pelo buraco da telha
Pro universo espiar.