Modo de Emoção
Não se ouvia um "piu" em meio àquele monte de aço;
Ninguém se arriscava à atrapalhar o compasso.
Fila em fila, peça por peça, sem frio na barriga, sem erros à beça.
Sem entreolhares, sem cochichos de vozes finas;
A esteira industrial passava seguindo a certa rotina.
Sem atrasos, sem "meu carro quebrou", sem rivalidade,
sem saber quem furtou.
Era a indústria dos sem emoção, feita somente de metais;
De natureza produtiva para ganhar mais capitais.
Sem compensações, sem folha de ponto, sem ausência;
Sem "minha mãe morreu ontem e hoje", sem doença.
Sem trapaças, sem fofocas mil. Ninguém sabe, ninguém viu;
Prega por prega, martelada certeira. Sem cansaço, sem asneira.
E, assim, seguia sem humanos, o setor de produção;
Criticado por não possuir, em seu quadro, emoção.
Índice de desemprego mais alto, trabalho informal também;
Elevou-se a produtividade por não haver mais ninguém.
Ninguém vivo, somente máquinas produtivas e industriais
a cumprirem seus ofícios sem vicissitudes comportamentais.
19/10/2018