Cancioneiro eterno

Cancioneiro eterno

Sou uma eterna primavera

sem a chegada do verão,

sou a luz das manhãs

em contraponto ao escuro vadio

das intempestivas madrugadas.

Sou o vazio das calçadas

e também o vento estarrecedor das ruas

ou a pele de mulheres nuas

após um banho de Cleópatra

para se entregarem ao ato do amor.

Sou a esperança rara,

a inevitável prece de um padre

que diante do que jurou o Cristo

a muitos anos na Palestina

jurou amar sem olhar a quem.

Sou a voz dos boêmios tardios

e febris que povoam as madrugadas,

sou o berro do olhar calado das prostitutas,

sou o lacre aberto da garrafa de cerveja

e por fim, sou um cancioneiro eterno.

Mas meu manifesto não acaba assim

pois aquilo que eu discurso

não é somente uma comédia de costumes

mas sim uma tragédia diária

tida pelos outros como modo de viver.

Sou a febre da ressaca moral

de um determinado alcoólatra

disposto a mudar de vida

repleto de resignação para renunciar a tudo

sempre após mais um porre passado.

Sou as vozes da manhã, na aurora

que caminham rumo as suas casas

sou uma voz que não se cala

que nunca se cala para melhor dizer

porque toda vida existe e existiu a dor.

Mateus Almeida Santos. 01/10/2018

Mateus Almeida
Enviado por Mateus Almeida em 02/10/2018
Reeditado em 02/10/2018
Código do texto: T6466117
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