O BURRICO E O TUC-TUC
– Anda lá, ó Jasmim, não sejas pastelão
Senão levas com a porra que tenho à mão…
Anda lá, ó Jasmim, faz-te lesto ao carreiro
Qu´ esta lufa que temos é pro dia inteiro!
– Arranca lá, ó Alface, não tenhas preguiça
Senão ponho-te a bomba na hora da missa…
Anda lá, ó Alface, sobe lesto a colina
Qu´ os camones suspiram na clara matina!
– Eh, Jasmim, eh Jasmim, és levado da breca
Não há por aí ninguém com a tua estaleca…
Anda, ó Jasmim, tu és o fadário do povo
E cá, na aldeia, quanto mais velho, mais novo.
– Ai Alface, ó Alface, não me lixes a vida,
Senão podes cá vir ficas só na Avenida…
Anda bué, ó Alface, é para além o Castelo
Senão der pro pitróil, vais levar co´ farelo!
– Ai, burrico Jasmim, carregas sacas, sereno,
Tu mastigas, feliz, as bolotas e o feno…
Arre, arre, ó Jasmim, que já tocam as trindades
Tua alma é o sossego que não há nas cidades!
– Anda lá, ó charrete, anda lá, ó Alface
Minha vida, por cá, não terá desenlace…
O negócio não chega para as encomendas
O que eu quero é que botem na saca umas prendas!
– Anda lá, ó carroça, anda lá, ó Jasmim
És o rei da manhã, não me chame Jaquim…
Quem me dera voltar àquela velha Senhora
Co´ a dura broa e canecos a toda a hora!
– Conduzir um Alface, um tuc-tuc, é lazer
É um entretém para quem não tem que fazer…
Uma vida tristonha, à guitarra e ao fado,
Não desejo a ninguém este pão do Diabo!
– O Burrico e o Tuc-tuc, são assim a matriz,
Da triste terra e tão desleixado País…
Ai quem me dera também fazer de turista,
Dando à aldeia e à cidade qualidade altruísta!
Frassino Machado
In NOVA CANÇÃO DA TERRA