FEBRE PAULISTANA
A Febre Amarela vitimou um macaco
e fecharam o zoo de São Paulo.
No entanto, mesmo sem visitas
os bichos do zoo mantém a rotina.
O Leão Paulistano mesmo sozinho,
prossegue o rugido;
sintonizou o ronco com a hora do “rush”,
porque o “rush” da cidade é felino,
gato vidrado parado à noite
e pela manhã,
outra língua lambe as ruas.
A Girafa Macho Paulistana
ainda espera a Fêmea
com seus lábios leporinos,
tão altos,
eles se chamam desprezo.
Fecharam o zoo de São Paulo.
Os bichos mantém a rotina.
O Tamanduá-Bandeira não espera visitas,
e quando anunciaram a extinção,
ele fechou os olhos;
mora em uma cidade
reparada mensalmente,
e que comemora pedaços:
(um pedaço de colégio
fará quinhentos anos).
Ele é Tamanduá inteiro.
E o Rinoceronte então,
seu chifre impede a visão
da alameda vazia.
Alguma coisa falta - ele pensa.
Seu chifre, no entanto, é a montanha,
a única de São Paulo.
O Avestruz Paulistano
também não nota mudanças,
o braço comprido do menino acenava
mas membro de criança não é pescoço
não sustenta cabeça de pássaro.
Para todos os outros bichos,
o silêncio de visitas desinteressa,
mesmo porque ainda não descobriram
patê de gente para o jantar.
Apenas o Hipopótamo Paulistano
percebe a ausência de turistas.
Ele entende absurdos:
o seu tamanho;
boiar no meio da gordura
de um lago gorduroso
por anos e anos;
e a enorme taxa de homicídios em São Paulo
por cem mil habitantes.
O Hipopótamo Paulistano analisa os dados.
Não pode fazer nada.