FEBRE PAULISTANA

A Febre Amarela vitimou um macaco

e fecharam o zoo de São Paulo.

No entanto, mesmo sem visitas

os bichos do zoo mantém a rotina.

O Leão Paulistano mesmo sozinho,

prossegue o rugido;

sintonizou o ronco com a hora do “rush”,

porque o “rush” da cidade é felino,

gato vidrado parado à noite

e pela manhã,

outra língua lambe as ruas.

A Girafa Macho Paulistana

ainda espera a Fêmea

com seus lábios leporinos,

tão altos,

eles se chamam desprezo.

Fecharam o zoo de São Paulo.

Os bichos mantém a rotina.

O Tamanduá-Bandeira não espera visitas,

e quando anunciaram a extinção,

ele fechou os olhos;

mora em uma cidade

reparada mensalmente,

e que comemora pedaços:

(um pedaço de colégio

fará quinhentos anos).

Ele é Tamanduá inteiro.

E o Rinoceronte então,

seu chifre impede a visão

da alameda vazia.

Alguma coisa falta - ele pensa.

Seu chifre, no entanto, é a montanha,

a única de São Paulo.

O Avestruz Paulistano

também não nota mudanças,

o braço comprido do menino acenava

mas membro de criança não é pescoço

não sustenta cabeça de pássaro.

Para todos os outros bichos,

o silêncio de visitas desinteressa,

mesmo porque ainda não descobriram

patê de gente para o jantar.

Apenas o Hipopótamo Paulistano

percebe a ausência de turistas.

Ele entende absurdos:

o seu tamanho;

boiar no meio da gordura

de um lago gorduroso

por anos e anos;

e a enorme taxa de homicídios em São Paulo

por cem mil habitantes.

O Hipopótamo Paulistano analisa os dados.

Não pode fazer nada.

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 08/07/2018
Reeditado em 25/08/2018
Código do texto: T6384744
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