Banco de Emoções
O céu, escuro, ainda não acordou de mais uma aventura,
Nem um raio de sol preenche o céu, ainda ensonado,
A escuridão do início de uma nova jornada,
Com a crónica de mais uma feição cerrada.
Aqui, na plataforma, todos se aproximam da borda para alcançar a locomotiva,
São às dezenas e expressam feições de amargura,
Perseguem uma jornada que se avizinha dura,
Aqui, a tristeza afirma-se como imperativa.
Entrando na carruagem, noto que cada pessoa se isola do resto dos demais,
A coexistência, essa, está fora de questão e, os olhos, paulatinamente, começam a dar pesados sinais.
O desgaste contínuo desaba aquando chegam ao conforto dos bancos da carruagem.
Reféns de alarmes electrónicos, ditam toda a sua vida através de uma corrida inglória e desenfreada.
À medida que a viagem avança e novos semblantes penetram o comboio,
Noto que a infelicidade é comutativa,
Nem um sorriso ou expressão de alegria exacerbada.
Apenas um contínuo desânimo que os parece perseguir nesta caminhada.
Alguns, por entre o desespero, tentam fitar o horizonte verde para fugir a um pesadelo negro sem fim,
Aqui, sonhar é proibido. Eles sabem que ao mínimo deslize, tudo se pode perder.
São dezenas de famílias, dependentes de uma única alma.
Tudo deve correr sem sinais de desgaste, roboticamente.
Até porque mais logo, nos seus lares, um novo dia laboral, se vai erguer.
Há bocas para alimentar, entes para cuidar e a vida, essa, não pode parar.
Eis que neste momento, um inesperado sorriso contagia o resto da população,
Os picadores de títulos invadem a carruagem,
Trocam-se sorrisos aos milhares. Compaixão daqueles que não escolhem acordar antes do sol raiar,
Esta é uma sina que todos eles partilham.
O pequeno espaço transforma-se imediatamente num micro clima de ternura,
Um pequeno banco de emoções que injecta fundos de felicidade a cada conta a longo-prazo.
Entretanto amanhece, e a luz toma de assalto Lisboa. Até logo, escuridão.