Passos

Já não sabia mais como dizer,

Só sabia que não seria fácil.

O tempo passa depressa

E partir infelizmente é outra passagem.

Era hora de levantar voo,

Sair dali, daqui,

Sair sem mim e, o pior,

Sair sem ti.

Os quartos ficaram vazios,

A casa toda.

O quintal seria por fim

Tomado pelas folhas caídas.

O vento as arrastaria para cá ou para lá

Durante seu lento apodrecer.

O portão enferrujaria sem uso

E sem lubrificação, sem visitas,

Sem saídas, sem conversas na calçada.

Passaria tudo agora a ser um

“Não mais” opaco.

Não mais músicas no rádio,

Não mais televisão até tarde,

Não mais alguém.

O telefone tocaria, mas sem resposta.

Ao tempo ficaria dada a poeira,

As teias, o silêncio e a ausência.

Na casa, moscas e insetos andariam

Sem pressa e sem medo

Até a comida acabar.

Sem mais voltas ao mercado,

Sem mais cumprimentos no ônibus,

Sem mais pito no cachimbo.

Crônicas de um Ignorante
Enviado por Crônicas de um Ignorante em 28/05/2018
Reeditado em 13/01/2019
Código do texto: T6348655
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