Passos
Já não sabia mais como dizer,
Só sabia que não seria fácil.
O tempo passa depressa
E partir infelizmente é outra passagem.
Era hora de levantar voo,
Sair dali, daqui,
Sair sem mim e, o pior,
Sair sem ti.
Os quartos ficaram vazios,
A casa toda.
O quintal seria por fim
Tomado pelas folhas caídas.
O vento as arrastaria para cá ou para lá
Durante seu lento apodrecer.
O portão enferrujaria sem uso
E sem lubrificação, sem visitas,
Sem saídas, sem conversas na calçada.
Passaria tudo agora a ser um
“Não mais” opaco.
Não mais músicas no rádio,
Não mais televisão até tarde,
Não mais alguém.
O telefone tocaria, mas sem resposta.
Ao tempo ficaria dada a poeira,
As teias, o silêncio e a ausência.
Na casa, moscas e insetos andariam
Sem pressa e sem medo
Até a comida acabar.
Sem mais voltas ao mercado,
Sem mais cumprimentos no ônibus,
Sem mais pito no cachimbo.