O menino do violino
Todos os dias, no final da tarde, em frente a minha janela passa um menino,
Vou acompanhando-o pela rua enquanto bebo meu cappuccino,
Pelo tamanho parece ter pouca idade o pequenino,
Traz nas mãos um estojo de instrumento musical, um violino,
A marca Hofner na lateral do estojo comprova que é alemão genuíno,
Vai com esforço segurando-o pela alça e o peso enverga seu corpo franzino,
Apesar de tudo não tem cara de bobo, parece ser ladino,
Com olhar atento e andar apressado chega logo ao seu destino,
A casa do meu querido vizinho, seu Belarmino,
Ex-professor de música do colégio vocacional, no período matutino,
O menino para no portão, coloca cuidadosamente o estojo no chão e toca o sino,
O velho professor abre a porta devagar e recebe o menino,
Cumprimento o professor com cortesia, afinal sou seu inquilino,
Fico na varanda, ouvindo de longe os acordes de um hino,
Que o menino vai tirando de seu instrumento de som cristalino,
Bebo lentamente o conteúdo de minha caneca, mas logo termino,
Meu coração sereno e alegre vai se aquietando paulatino,
Continuo ali imóvel, fecho os olhos, para ouvir melhor, aquele som divino,
Esse menino tem talento, embaixo eu assino,
Uma hora depois o concerto é findo,
O mestre se despede, passando a mão nos cabelos do bambino,
Já está entardecendo, entro e tranco a porta, me previno,
Tenho muito a fazer, raciocino,
Mas amanhã vou pra varanda novamente, esperar o menino do violino.