Serpente

Havia um tempo em que serpenteava pouco...

E os brotos raros teimavam, no topo do toco;

Serpentear não se estendia, entre passantes,

Havia um fluxo, e um respirar nada ofegante.

Hoje essa serpente se estende feita de ferro,

Vidro, borracha, motor silencioso, outros não;

Vai intercalando buzinas, palavrões e berros,

E também um pouco de gentileza, educação.

Um necessário algoz, e encurtador de horas,

Num desfilar rebuscado, ostentando o poder;

Intercalado por antiguidade, devora, demora,

Serpenteia, segue entre passantes a se mover.

E o broto virou árvore, oferta sombra ao olhar,

Que espera, implora para poder passar, verde;

Que nunca chega; e a chuva fazendo molhar,

O sapato, a blusa, a boca que estava com sede.

Enquanto a serpente segue num crescente...

Marcas, cores caras, lindas jóias pelas ruas;

Carga pesada, e o socorro sempre presente,

É sirene, motos, carros, realidade minha e sua.