EU SAIO DE CENA
Por Sandra Fayad
 
Saio de cena, enjoada
de tantos pinóquios em cada esquina,
de tanta reserva de território sem índios,
demarcado no grito ou na tramoia;
de tantos arranjos sem batuta de um maestro,
e espartanos ocultos em cavalo de Tróia.

Saio de cena, enjoada
de deboches, discursos ultrapassados,
revolta pueril de velhos militantes,
caras e bocas mal sucedidas.

Nessa falácia esfacelada
de minoria perdida,  inconformada,
fecho meu leque de bailarina,
e digo sem escárnio
que não sinto pena de quem esperou...esperou...
e morreu na praia, sonhando....
Só perde quem bebe em águas turvas,
convencido que é água potável.

Chega de turras!

Sonhos pós anos dourados viraram carvão
no fogão da sobrevivência de quem trabalha.
Já não recebem retorno de santos e anjos
que há muito descansam no Paraíso.
Minha fé nessa gente sem ideal
nasceu sem juízo e, com juízo, pereceu
sob o acervo de mentiras que prega ao vento.

Saio da cena
Da mídia vendida ou comprada,
da in-justiça, da anti-política,
com pena da sociedade nocauteada
que nem de piadas consegue mais rir.
Já não grita nem chora em meio ao entrave.
Minha voz que ecoava suave,
diante de tanta distorção, emudeceu.
Já não quero dividir esse picadeiro.
Vou ser plateia no circo de Orpheu.

Se um dia somei para compor o inteiro,
a hora agora é de, outra vez, deixar a arena.
Recolho meu tempo no bornal. Vou trabalhar!
Saio de cena.
 [Brasília, 01-04-2018]
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Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 01/04/2018
Reeditado em 09/07/2022
Código do texto: T6297052
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