Flores Selvagens
Deixe os meus escritos
Escreverem por mim
Sangue preto das lareiras
Mãos sujas cozinhadas
Pratos com o estômago vazio
Cantarei arroz doce
Sem açúcar refogado
Com água que seca na fervura
Num fogão já apagado
Meditarei café
Leite e pão
Com o preço amanteigado
Que voa avultado
E assusta os nossos bolsos
Dormirei feito flor
Nas mãos do Deus que amou
Antes que eu fosse vida
A vida sustentou
Para evitar gritar
Enraivecido que a batalha
Está sangrenta, chove escola
Sem ensino, molha as ruas
Com cerveja
Fino, quiçá tinto
Papá calou amor aos filhos
Tem emprego, tem salário
Só não tem família
Para manter o trabalho
Cego anda
Conduz cego
Cego anda distraído
Cego viu que aqui está escuro
Mas no escuro viu luz
Cego agora está perdido
Procurado por Jesus
Mãe que mata
Morre o filho
Inocente quis viver
Flores murcham
Ofuscam
Seu brilho de se ver
Irmã quer ganhar
Vadiagem traz dinheiro
Longas pernas
Notas verdes
Contrato com o motoqueiro
Granelista assusta o mundo
Faz balázios, ganha fama
Governante é insensível
Alguém nos acuda
Mendigos têm armas
Bebé nasceu alegre
Mas quer voltar pro ventre
Porque o desgosto daqui fora
Enterrou minha gente.