Flores Selvagens

Deixe os meus escritos

Escreverem por mim

Sangue preto das lareiras

Mãos sujas cozinhadas

Pratos com o estômago vazio

Cantarei arroz doce

Sem açúcar refogado

Com água que seca na fervura

Num fogão já apagado

Meditarei café

Leite e pão

Com o preço amanteigado

Que voa avultado

E assusta os nossos bolsos

Dormirei feito flor

Nas mãos do Deus que amou

Antes que eu fosse vida

A vida sustentou

Para evitar gritar

Enraivecido que a batalha

Está sangrenta, chove escola

Sem ensino, molha as ruas

Com cerveja

Fino, quiçá tinto

Papá calou amor aos filhos

Tem emprego, tem salário

Só não tem família

Para manter o trabalho

Cego anda

Conduz cego

Cego anda distraído

Cego viu que aqui está escuro

Mas no escuro viu luz

Cego agora está perdido

Procurado por Jesus

Mãe que mata

Morre o filho

Inocente quis viver

Flores murcham

Ofuscam

Seu brilho de se ver

Irmã quer ganhar

Vadiagem traz dinheiro

Longas pernas

Notas verdes

Contrato com o motoqueiro

Granelista assusta o mundo

Faz balázios, ganha fama

Governante é insensível

Alguém nos acuda

Mendigos têm armas

Bebé nasceu alegre

Mas quer voltar pro ventre

Porque o desgosto daqui fora

Enterrou minha gente.

Widralino
Enviado por Widralino em 02/03/2018
Código do texto: T6268369
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.