Fumaça 3

A necessidade transcende a moral

É isto que me queda

Na jornada do existir

Com fardos a mais nas costas

Pés inchados

De tanto atravessar terras vermelhas

À procura de onde sou

Doenças no caminho

Águas paradas para beber

Trato de libertar fumaça

Para suportar a poluição das pazes

A pretensa democracia

A postiça igualdade

O grupo que muito canta

Nada fala, nada faz

E o regente deste coro que se mostra incapaz

De distribuir as notas por igual

Em prol duma canção

Que entoada em unidade acordaria uma nação

Neste circo

As trapalhadas desencadeiam lutos

O espectáculo dura anos

O desgosto é eterno

Fumo,

Para descansar o suor

Humedecer a tristeza

Avivar-me

Fugir da própria mente

Escapar das discussões

E procurar atentamente

A cada dia que se vai embora apressado

Como os momentos de felicidade

Estar iluminado de esperança

Pois é o quadro das ruas

Escuro desde a nossa infância

Falo com o cigarro

De onde vêm as aflições?

Escarro as dores quando tusso

Exalo sossego pelos poros.

Widralino
Enviado por Widralino em 28/02/2018
Código do texto: T6266458
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