Fumaça 3
A necessidade transcende a moral
É isto que me queda
Na jornada do existir
Com fardos a mais nas costas
Pés inchados
De tanto atravessar terras vermelhas
À procura de onde sou
Doenças no caminho
Águas paradas para beber
Trato de libertar fumaça
Para suportar a poluição das pazes
A pretensa democracia
A postiça igualdade
O grupo que muito canta
Nada fala, nada faz
E o regente deste coro que se mostra incapaz
De distribuir as notas por igual
Em prol duma canção
Que entoada em unidade acordaria uma nação
Neste circo
As trapalhadas desencadeiam lutos
O espectáculo dura anos
O desgosto é eterno
Fumo,
Para descansar o suor
Humedecer a tristeza
Avivar-me
Fugir da própria mente
Escapar das discussões
E procurar atentamente
A cada dia que se vai embora apressado
Como os momentos de felicidade
Estar iluminado de esperança
Pois é o quadro das ruas
Escuro desde a nossa infância
Falo com o cigarro
De onde vêm as aflições?
Escarro as dores quando tusso
Exalo sossego pelos poros.