Ausência

Aos olhos de minha família:

sou filho, irmão, sobrinho ou neto.

Aos olhos dos amigos:

sou somente um cara legal.

Aos olhos da sociedade:

sou só mais um, cheio de rótulos.

Aos olhos da religião:

sou um pecador.

Aos olhos da política:

sou um eleitor.

Aos olhos da psicologia:

preciso de terapia.

Da medicina:

estou sempre doente.

Aos olhos de uma fotografia:

sou apenas uma imagem —

esta, sobreviverá mais tempo que meus

ossos e músculos e pele,

embora um dia

ela também se vá.

Aos meus olhos:

eu nem aqui dentro estou.

Conheço os familiares, os amigos,

a sociedade, a religião, a política,

a psicologia, a medicina e

sei o que é fotografia.

Em todos esses anos

eu só não soube

foi de mim.

E o preço que se paga por esta ausência

é ser o filho, o irmão, sobrinho, o neto,

o amigo, um rótulo, um pecador, um eleitor

doente que precisa de terapia

e está presente numa fotografia

cuja imagem sobreviverá

muito além de mim mesmo.

— E que a meu respeito não diz nada!

Um Rapaz Meio Estranho
Enviado por Um Rapaz Meio Estranho em 10/02/2018
Código do texto: T6250393
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