CÂNCER
Na avenida central
O cheiro agradável de gasolina
Fazia arder
Nos invadindo os poros
Do habitual aroma urbano.
O combustível queimava
E junto dele
Gastavam-se os pneus:
A cidade ia se movendo
Feito uma imensa máquina.
Nós
Suas engrenagens avulsas
Gastávamos a saúde no enfado.
Ali avistei um muro
Turvo
Mudo
Transcendendo a janela de meu carro.
Um muro escuro
Feito a noite
Soturno
Como o medo
Me fitava
Feito um abismo.
Que tinha esse muro?
Cismo
Com os pequenos lampejos
Que ali reluzem
Dos cachimbos.
De onde estava
Quase ouvia o atrito dos isqueiros
Quase sentia a fome
Com que consomem
Aquilo
Que lhes consome por inteiros.