2017

Acho que sobrevivemos

Saio nublado

entre os pingos

desse ano doido

mas acredito que ainda há coração

há alma

há mundo

e ainda há tempo e espaço para entendimento

e salvação mútua no meio de tanto radicalismo, desentendimento e incompreensão

Não tenho motivos para achar que os vampiros vão largar o pescoço do país

que o mal político vai desaparecer

que a justiça (que piada!...)

vai reinar e ser respeitada

e que tudo vai mudar como num passe de mágica

Não estou com paciência para esperar as coisas melhorarem

vou lutar comigo

tentar ser mais meu amigo

valorizar mais meu sonhar

Enquanto isso vou pisando no mundo

através de sandálias

que no fundo são plástico velho

e apenas me separam de tudo e do tanto

que jogamos por ai

Agora

vou andar um pouco

dentro na ultima manhã de 2017

sem levar nada além de um pouco de esperança e do bom dia

que vou plantando nas pessoas e nas coisas por aqui

Vou ouvir um pouco

o silêncio

desse horário

os casais abraçados se amando através dos seus respectivos celulares

os amigos batendo um baba antes da cerveja

um cara mergulhando

uma mulher colocando flores no mar

uma família se estressando com o horário da viagem

uns perdidos olhando o ar

Eu

que sou escrito pelo tempo

faço 52 anos até dia 13 de janeiro de 2018

depois

meu corpo fica um pouco mais velho

Nesse ano que está escapando

pelos meus dedos

eu enfrentei todo tipo de seres da terra

me casei no dia de Iemanjá

e existi em toneladas de poemas que espalhei

como sinais de fumaça

em um mundo que quase não entende mais a linguagem das crianças, dos índios e dos poetas

E continuo aqui

fiel a quem sou

pago cada dia mais caro

mas não pretendo deixarei de amar

nunca.