POR ENQUANTO
Da janela de um apartamento anônimo
Em meio a outros tantos
Entreabro as cortinas e
Ponho-me a observar
O desvanecer da noite.
Presumo
Logo o esmaecer dos primeiros instantes da manhã
Até despertar por completo
Mas um dia.
Nesse momento
A cidade já estará em movimento
Tal uma engenhosa engrenagem:
Funcionários em alarido
Estarão abordo das lotações cortando alamedas
Para iniciarem seu turno nas fábricas;
O impostômetro a nos haurir, marcará o primeiro milhão de reais às sete horas e meia;
Os comércios dispostos por todas as avenidas irão expor suas vitrines
E venderão para poder comprar;
Estudantes ao sinal das escolas
Terão início as aulas desta manhã
Em que um jovem andará sem êxito por estas calçadas
Em busca de um emprego, exilado em seu próprio lar
E crianças caminharão com suas mães
Próximo à praça onde sentam-se os anciãos junto aos pombos
A esperar por alguma eternidade.
Mais um dia nascerá para todos
Como todo dia
Unicamente igual
Àquele que antecedera a noite
Que agora se finda.
(Haverá promessa maior que o futuro?)
As manhãs trazem tais questões
Mas o tempo as apaga como se apaga a brasa dos cigarros
Se percebemos
Que o mesmo só se mede em grandes quantidades
Quando já resultado em cinzas.
Nenhum sinal de mudança
Se anuncia aqui
No entanto
Nós alenta pensar que isso só nos ocorre
Por enquanto.