SONS
Sons de automóveis subindo,
um farfalhar no quintal.
São folhas secas de arbusto desnudado,
que outono derrubou e a primavera
não revestiu, ainda,
dos verdes brotos que o verão precisa,
Pro fruto dar, pra vir a flor.
Um avião atravessa o céu, outros sons,
são falas pelas ruas, gente do trabalho,
máquinas da noite, gritos na telinha.
Móveis sons de móveis, a mata em silêncio.
Quase nada se percebe, nem o som do vento.
Mas penso em você, onde estará?
A noite chega, você não vem,
quase escuto, mas não, é outro som!
A buzina chamando alguém,
o olhar que vagueia,
o motor roncador da espécie humana
que precisa chegar, em algum lugar,
um brinquedo, um latido,
uma forma de esquecer.
Melhor atentar para vida,
melhor acalmar os sentidos,
abraçar quem me abraça,
afagar seus cabelos
e sentir que estou viva, pelos sons que percebo.
Qualquer som é melhor do que nada.
Outros sons de automóveis ouvindo...