Flores Finadas
O odor das flores carbonizadas
Nada se assemelha ao perfume de quando vivas
Ali, em meio às velas, são postas a morrer
Um tributo aos mortos: morrer a única vida
Não acredito que seja o desejo dos finados
Entregar os vivos à morte arbitrária
Acredito mais em preservar perfumes
Da vida, dos corações, das mentes várias
Imagina se naquelas flores não havia almas
De borboletas, de pessoas, de flores
Agonizando, morrendo, secando, sem causa
Pela última (ou única) vez, sentindo as dores
Não acredito em oferenda de sacrifícios
Em perdimento de perfumes, em regozijo na dor
Não acredito na eficiência de artifícios
Oferendas, ingredientes, palavras... não substituem o amor.
Entregar a vida de outro
Para pagar suas promessas
Deve ser muito pouco
Para se redimir o mais depressa
Antes, dar sua própria vida a quem queira
Do que fazer o que bem quiser com a de qualquer um
Não vamos tomar coisas sérias por besteiras
Porque a vida dos outros não é sua: ela é de cada um.
Vidas são vidas, não importam suas formas
Não crie limites em padrões, dizendo: isto é vida e isto não é
Ou: isto deve ser respeitado e isto não importa
Para cada vida, ela importa: ela existe... assim, ela é.
Vidas são vidas, e não brinque com a minha
Assim como não pretendo brincar com a sua
Neste grande mundo, estamos em uma fila
E dela apenas sai quem se cansa ou quem pula
(mas entra quem fura)
Se eu fosse uma flor, qual flor seria?
Gosto de flores amarelas, são leves
Mas se eu fosse outra, que me importaria?
Só espero que minha passagem seja breve.
Humanos do mundo, não carbonizem mais nossas flores!
Deixem que vivam, que cumpram sua missão
Sendo belas, cheirosas ou não, brancas ou em cores
Apenas deixem elas serem simplesmente o que são.