MEU PASSADO

Passado, passado meu

Seu safado, seu malvado

Em que mundo você me meteu?

Músculos fortes fraquearam

Juntas fracas se enrijeceram

Mexeu com minha virilidade

Reduziu a minha mobilidade

De rugas, minha cara encheu

A quase invisível visão anuviou

A quase inaudível audição ruiu

A quase rouca voz se silenciou

Tornou o cérebro mais lento

Minha depressão, desalento

Ao vento, jogou meus projetos

Nos dejetos da vã esperança

Outrora, uma alegre criança

Agora, um velho desatento

***

Passado, passado meu

Seu safado, seu malvado

Cadê o mundo que me prometeu?

Cobriu-me de saudade

Definhou-me na idade

Largou-me em longa andança

Abarrotou-me de lembranças

Envoltas num sonho que feneceu

Diante de receios e incertezas

Abandonei tabus, aboli conceitos

E, sem preconceitos, desisti da imagem

Pois sou só ínfima peça na engrenagem

Da fabulosa máquina natureza

E você, ladrão de tempo

Do tempo que eu não vi passar

Do tempo que eu não tive

Do tempo que não soube usar

***

Passado, passado meu

Meu querido, meu amado

É tudo brincadeira

Eu lhe quero muito bem

Você não é um inimigo

É o amigo que poucos têm

Me almejava uma bela trajetória

Queria me ver um herói imbatível

Superador de barreira, invencível

Cercado de amor, poder e glória

Pois consegui mais do que isso

Consegui ser eu... somente eu

E eu, aceitando o jeito que sou

Com minhas limitações

Controlando frustrações

Sou apenas eu ... somente eu

Do jeito meu... Feliz como sou

***

Passado, passado meu

Meu querido, meu amado

Eu lhe entreguei minha juventude

Numa atitude de conquistar o além

E você me presenteou a plenitude

Da experiência dos anos

Da sabedoria de decanos

Que veem o que jovens não veem

Me fez um homem rico

No lírico poema da vida

De riqueza desmedida

Dos bens que de você herdei:

Esposa querida e pais venerados

Filhos amados e netos adorados

E, muitos amigos ...

Amigos para sempre

E, que para sempre os terei!