Cotidiano
A rua, a buzina, a morte no asfalto,
o patrão filho da puta, o ônibus lotado,
o trem fedido, o relógio de ponto, o calor infernal,
o pobre fodido, o salário mínimo do mínimo,
os políticos larápios, a justiça cega e manca.
O famigerado horário de verão, o orgasmo relâmpago,
a saudade da roça, o nariz cheio de óleo diesel,
a gripe, a tosse, o espirro, a cidade cheirando enxofre,
a paixão virtual, o beijo digitalizado, a senha, o simulacro.
A ansiedade, a depressão, a novidade envelhecida,
a saudade, a lágrima, o riso, a dor, a fé, o ceticismo,
o fim do mundo tão perto, as pessoas tão longe,
o cenário eterno de um contraste entre a vida e a morte.