DENTRO DE VIDRAÇAS E POTES
Um dia é para ser engarrafado
Dentro de vidraças de janela e potes de geleia
Quando a tarde se aproxima lenta e voraz
Saboreando-se com metas não realizadas
O vazio fica no ar onde oxigênio não existe
Um rosto perdido na imensidão do pequeno apartamento
Vaga entre a poeira de uma cidade que se descama
Estrangulando seus homens e mulheres
Tragando seus sonhos adubados com fuligem
Eu venho de um mundo onde a natureza pulsa
Em seu esplendor como um coração feliz
Mas agora piso sobre lençóis de minerais aquecidos
Fritando esperanças em passos apressados
Eu venho de outros enredos onde os dramas não sufocam
E os abraços, ainda que não dados, são mais sinceros
Olhares atentos vigiam a vida em seus rasgos
Aptos para costurar com seus fios pensativos
A simplicidade de andar descalço sobre os atalhos serenos
Eu não me acostumo com as programações urbanas
Ventiladas com redemoinhos sobre o asfalto pálido
Em cada momento que sou produtor, produto e consumidor
Rabisco em minha agenda o próximo passo sem direção