ARMAZEM
Passava no final da tarde no armazém
O refúgio do sol, o apelo sal
Ganhava um sorriso da Cláudia
E um cadim de café
Aceita? Tá fresquim!
Aceitava sim e sentava lá no fundo
Lá onde se acomodava
Quem era de casa
Ouvia as histórias
Que não eram suas
Sua terapia
A história do marido
Largado na estrada da pinga
A história do filho doente
De saudade do pai
Ausente
Pedia um frango
Para o almoço de domingo
Broinhas para o café da
Tarde
Torradas para o amanhecer
Uma lasca de requeijão
Porque está bonito
Ovos caipira
Não podem faltar
E, apesar de detestar
O tal do sertanejo
Amava o sertão
Do grão, da fruta, do pão
Do aconchego, do amor
Irmão
Da fatura, da labuta
Do pai, do filho, do avô
Que o neto não entendia
Nem contemplava
E só queria no final do mês
Sua mesada pra gastar
Em roupa de marca
E shows de rock in rol.