TARDE DA NOITE
A rua está silenciosa antes da meia noite
Apenas aquele cão andando de um lado para outro
Apenas aquele cão
Aquele
Um grito vasculha as latas de lixo
Em busca de resto orgânico de esperança
Dentro de cada casa, de cada lar
O sonho sufocado e os velhos programas de tevê
A folha de papel rabiscada pela criança ociosa
Não é arte, não é mensagem
É apenas o velho hábito do Homo sapiens
Em não dizer nada diante do branco e do obscuro
Enquanto as horas avançam pela trilha do tempo
Rompendo o véu do futuro como se desnuda uma noiva
As palavras são silenciadas pelo sono pesado
Ou pelo olhar mendicante suplicando por amor
Talvez alguém tente mudar de canal
Talvez alguém precise de mais cobertor
O frio germina nas paredes da velha casa
Como erva nostálgica ou néctar alucinógeno
Eu vou me embriagar de mais uma noite
Quieto em meu canto, acuado pela poesia
Que mostra seus dentes palitados pela manhã
Enquanto bafeja em meu rosto as horas cancerígenas de todo um dia