TARDE DA NOITE

A rua está silenciosa antes da meia noite

Apenas aquele cão andando de um lado para outro

Apenas aquele cão

Aquele

Um grito vasculha as latas de lixo

Em busca de resto orgânico de esperança

Dentro de cada casa, de cada lar

O sonho sufocado e os velhos programas de tevê

A folha de papel rabiscada pela criança ociosa

Não é arte, não é mensagem

É apenas o velho hábito do Homo sapiens

Em não dizer nada diante do branco e do obscuro

Enquanto as horas avançam pela trilha do tempo

Rompendo o véu do futuro como se desnuda uma noiva

As palavras são silenciadas pelo sono pesado

Ou pelo olhar mendicante suplicando por amor

Talvez alguém tente mudar de canal

Talvez alguém precise de mais cobertor

O frio germina nas paredes da velha casa

Como erva nostálgica ou néctar alucinógeno

Eu vou me embriagar de mais uma noite

Quieto em meu canto, acuado pela poesia

Que mostra seus dentes palitados pela manhã

Enquanto bafeja em meu rosto as horas cancerígenas de todo um dia

Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 01/10/2017
Código do texto: T6130004
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