Ainda é como antes

É como lança, ponta afiada, voz aguda que ataca;

é como o cão que morde mas não ladra, é como a nuvem de saudade que não se dissipa, nem passa.

É como o homem na lua, uma farsa;

é como o homem nas ruas, que faz da caixa de papelão morada;

É a raça ariana, uma mentira puritana,

é como um dia foi, bela, a cidade de mariana;

é o peito sem coração dentro da caixa torácica;

É luta de classes, diária na periferia;

é o dia a dia sem final feliz em cada noite vazia,

é o sopro de vida que se extingue com facilidade;

É a vaidade em cada canto da cidade, em cada alma lapidada com base no capitalismo selvagem;

é o peso da mentira em cada gota de verdade...

É o verso sem o poeta, é a bela sem a fera.

E eu nada mais sou do que uma simples expectativa singela.

É o sabor do sangue em meio ao leite-café; é a fé de mais um que naufraga tipo Pedro em alto-mar;

É como negar três vezes antes de acreditar.