AOS “DAYS AFTER”...

Tão logo nos chegou mais um sol.

Chegou assustado, desapontado,

Como tudo que chega sem saber para aonde.

E mais um e mais um outro sol chegariam

Dentre tantos sóis que chegarão insípidos

Nublados de amanhãs amputados.

São muitas as horas seqüenciais

Que se perdem em dias de vácuos.

A expectativa é patética:

Sempre há vacâncias prontas e programáticas

Para a lógica e para a precisão.

Alguém grita pela ética que nunca viu.

A razão desistiu de ser, tomaram o seu lugar:

Umas moedas vagabundas

E tudo se vende e se compra sem vergonha alguma.

Muitas são as gargalhadas dissonantes

que fingem compromissso de nada.

Corrupção carcome mais que cancro!

Mesmo assim

Todos esperam pelos "days after"...de todos os dias,

Como se prontos a coroar o nada mais vazio de todos!

O céu se alumia:

Mais uma barricada é acesa na avenida.

É só mais fumaça perdida, preta e muda...

A asfixiar todo futuro que nunca chega.

A mídia prontamente atenta

Acende seus holofotes em todas as ruínas

Como urubús famintos das mesmíssimas novidades

putrefatas de todos os tempos.

Mais um cachimbo fugitivo

Se acende na esquina que ninguém vê,

Só para diminuir a dor de não existir.

A fumaça sobe anemiada,

a queimar todas células, todos os sentidos,

todas as chances.

Alguém joga um jato d’água n’outro alguém

Como se a limpar a sujeira crescente de si mesmo.

Lá de cima,

Os colarinhos desfilam poses e palmas abaixo

Em plenos plenários plenos de si mesmos.

Sempre os mesmos...”Homens” do nada.

Os que se erguem emplumados de gravatas coloridas

Como forcas das eloqüências repetitivas e dissimuladas

que nada mudam.

As palmas efusivas aos seus iguais

São emblemáticas de toda tragédia humana em curso,

Enquanto a vaidade se enfeita com resiliência dolorosa.

Alguém ainda garante que todos são iguais perante a lei.

Uma esmola é dada no anonimato

Qual sublimação do abandono de si mesmo,

Posto que

As migalhas de cima já sequer caem aos homens de baixo

Como cai o milagre ainda salpicado aos pombos da praça.

Num leilão doutro mundo se leiloa o furto dos homens

Transformado em poeira lunática.

Um craque é vendido pelo que sequer nos salvaria

De todos os naufrágios em terra minada.

Um longo míssel balístico

Por milagre

Se desvia dos olhares assustados do mundo.

No plenário dos Homens mundanos

Todos os "days after" são justificados

Pelos atos espúrios de suas mãos.

A criança da bala intra-útero não soube de nada.

Apenas partiu...inconsciente,

Amparada no silêncio dum mar amniótico

Sem ser avisada de que toda a vida

-Mesmo sem nascer!

Por aqui pode não ter o dia seguinte.