Logo Cedo

Logo pela matina o ônibus já está com sua correria

Lá pelas quatro ele passa coletando almas perdidas

Pela janela embaçada eu vejo a cidade apagada,

Caio em admiração perante a noite estrelada

Até os pássaros estão dormindo, não escuto nada

E o frio me abraça com suas mãos geladas

Mesmo o moletom da marca mais cara não escaparia da ventania

E minhas palmas clarearam, rígidas se tornaram

Meus lábios secaram, as bochechas congelaram

Até mesmo meus ossos se enferrujaram,

"Dai-nos calor", eles me suplicarão.

Passando por entre as rodovias eu encontro luzes

A estrada se deleita delas, e que assim continue

Um pouco longe dali vemos catadióptricos a surgir

E, dentre tantas faces sonolentas,

Há aquelas que foram levadas pela correnteza,

Que lentamente se renderam ao Pestana e sua delicadeza

Outras tomaram um café forte e suas colunas estão em porte

Aquele dorminhoco do Sol ainda não apareceu,

Quando preciso do seu raiar, ele tende a me ignorar.

Ruas vazias, praças sem vida, esquinas sem alegria

Neste momento do ponteiro, a comunidade é suspensa

A movimentação nas avenidas ainda está lenta.

E no retorno, contemplarei o nascer do novo dia

E uma voz em meu peito grita

"Viva!".