CACAUAIS

(Homenagem à Jorge Amado, poema baseado no seu segundo romance - CACAU, 1933)

- I -

Cacauais...

Ouro da Bahia

Terra dos lamentos,

Das morenas e

De muitos ais.

Terras dos coronéis

Chuparinos,

Septuagenários,

Sanguinários

E cruéis.

E a vida trilhava

Nos “Murtinho”

Pelas vilas e quintais,

Nas peladas dominicais,

Com moleques operários

E bexigas de animais.

Casebres aglutinados

Nas vilas perimundo,

Nas vilas “cu com bunda”,

Na labuta sem esperança

De segunda a segunda.

Histórias tão desiguais

De negros e mulatas

Nas terras dos cacauais,

Nação de sofrimentos

E de deliciosos ais.

- II -

Será sempre esquisita

A fome que corrói

E grita dentro da gente.

Pode ser em paris,

Nos ribeirais ou

Na beira do cais.

Humilha-nos

O destino faminto,

A falta da marmita

Nas pensões da vida

Ou a falta dos réis

Na mão do operário,

Na terra dos coronéis.

Indigna paisagem

Da esperança sufocada,

Ver-se como coisa

E ter a sua alma

Alugada,

Sugada e subjugada

Nas lavouras dos cacauais.

Verás em cada amanhecer,

Sangue,

Suor

E a esperança

Serem derramados

Nas lavouras infernais.

- III -

Mortes insanas

Mortes de mando

E a vida passeia

Todos os dias

De segunda classe

Com conversas

E cusparadas ao léu

Que dão cor à tua viagem.

E o amor somente

“Contratado” encontra

No mato seu ninho

E as enxadadas

Roubam-lhe o óbvio.

Enquanto na rua

Dos sete

Pecados mortais

Ramificavam

Os sexos,

Os desejos,

Os carinhos

E os afetos pagos

Na lida das rameiras,

Nos quartos de pensões

Ou debaixo dos coqueirais.

- IV -

Na imensidão do mato

E nas roças dos cacauais,

Na sombra da necessidade

E nos causos à viola

Crescia a camaradagem.

A fome encontrava

A frágil saída

Nos bagos de jaca

E a latrina sempre seria

O silencioso e vasto pasto.

Na solidão das colheitas

E na ausência das rameiras

Machiava-se

Com as éguas da tropa

Nas sombras carinhosas

Dos cacauais.

E ao longo da estrada

Os corpos caíam nas tocais,

Gerando cruzes no caminho

Das tramas sobre os araçais.